Se você é militante ou simpatizante do PT, saiba que este perdeu estas últimas eleições por que não mudar o sistema político. E se você votou no Bolsonaro, saiba que se ele não conseguir fazer uma reforma política, cedo ou tarde surgirão problemas de corrupção. Assim como, se o sistema político não mudar, as reformas necessárias para o Brasil não irão sair do papel.
O que há de errado com nosso sistema político?
Quase tudo. As campanhas eleitorais são muito caras. Não há fidelidade partidária. Os eleitores não conhecem nem acompanham seus deputados. O relacionamento entre presidente e congresso normalmente é uma queda de braço para ver quem tem mais força. Na verdade, são tantos problemas que é difícil identificar algo de bom no nosso sistema político / partidário / eleitoral.
O que poderia ser diferente?
Pensando em todas as reformas que o Brasil precisa fazer (Previdência, Tributária, Fiscal, etc), o melhor sistema seria o parlamentarismo. No sistema atual, o presidencialismo, o eleitor vota em um deputado e no presidente. Os votos podem, inclusive ser em partidos diferentes.
Vejam as ilustrações a seguir. As cores são uma representação de partidos/ideologias dos eleitos.
Isto faz com que, mesmo sendo eleito com uma votação expressiva, o presidente não tenha maioria no congresso. E aí, começa a queda de braço entre o presidente e o congresso. O presidente quer um conjunto de leis, mas o congresso não aprova tais leis.
Agora veja, como as coisas são bem diferentes no parlamentarismo (coloco aqui apenas uma das variantes do parlamentarismo, mas as ideias são basicamente as mesmas). Primeiro, o eleitor só vota no deputado. Os deputados fazem suas campanhas propondo suas ideias. Então, ao final da eleição, o congresso fica assim:
E, agora vem a mágica. O congresso precisa escolher, por votação, um primeiro ministro. Então, o primeiro ministro acaba sendo eleito pela maioria do congresso, e, portanto, tem o apoio do mesmo. Acaba havendo um relacionamento onde os dois lados se apoiam.
Em geral, no parlamentarismo, as ideias são mais importantes que as pessoas. Os deputados são eleitos por suas ideias, o congresso reflete um conjunto de ideias que a maioria da população quer, e o primeiro ministro é o escolhido para colocar as ideias em prática.
Voto distrital
Outro ponto fundamentalmente errado no nosso sistema eleitoral é a distância do deputado em relação ao eleitor. O eleitor simplesmente não o conhece. Há um conjunto grande de deputados, disputando um conjunto grande de vagas. Os candidatos precisam se deslocar por grandes distâncias para fazer campanha. As campanhas são caras e mesmo assim o eleitor não conhece seu candidato.
Agora, conheça o sistema de voto distrital. Cada uma das cadeiras do congresso está ligada a uma pequena região. Se, a câmara de deputados tem 513 vagas, seria como dividir o país inteiro em 513 regiões. E os candidatos disputam as vagas apenas dentro de cada uma das regiões. O candidato da região 15 não pode receber votos da região 37, por exemplo.
Agora o eleitor tem um conjunto bem menor de candidatos a escolher. Haverá uma disputa entre os deputados, um expondo os defeitos dos outros. Ao final da disputa, o eleitor saberá exatamente quem foi eleito. E poderá acompanhar melhor também.
As campanhas acabam ficando bem mais baratas também. Os candidatos ficam apenas dentro do seu distrito, diminuindo os custos de transporte e material de campanha.
E o financiamento disto tudo?
Boa parte dos escândalos de corrupção dos últimos 20 anos estavam também ligados ao financiamento de campanhas eleitorais. Campanhas caríssimas e caixa 2 são coisas que o povo se acostumou a ouvir. Agora imagine uma campanha padronizada para todos. Primeiro, todos os candidatos teriam uma página na internet onde exporiam suas ideias. Um canal no youtube. Uma página no Facebook. Tudo permitindo a exposição de suas ideias e a interação com seus eleitores.
Candidatos a presidente viajariam todos juntos para todas as capitais. Iriam juntos para debates públicos, onde as pessoas poderiam perguntar e ouvir de todos os candidatos as respostas a suas perguntas.
Nada de comício. Nada de artistas. Todos os candidatos juntos para interagir com o eleitor. E tudo bem barato.
Agora, com um sistema bem barato, onde o mais importante é a exposição de ideias, entra o financiamento público. As empresas não teriam para quem doar. Odebrecht não teria um departamento só para bancar as campanhas dos políticos.
Isto são idéias do Maurício Kanada!
O que coloquei acima não descreve nenhuma reforma política que tenha sido apresentada. É um conjunto de ideias que fui somando na minha cabeça. Outras propostas existem, algumas melhores ou piores sob minha avaliação. O fato é que o sistema atual está podre. E continuará se não for reformado.
Voltando a 2006
Lula foi reeleito após o escândalo do mensalão. Ficou claro que o sistema político / partidário / eleitoral estava corrompido. E o que o PT fez? NADA. Tudo continuou como antes. Por favor, olhe no gráfico abaixo:
Era responsabilidade de Lula transformar sua popularidade no segundo mandato numa reforma política. Se tivesse feito a reforma política, todas as demais reformas (previdenciária, tributária, fiscal, etc) teriam saído do papel. “Ah, mas o congresso não queria votar uma reforma política!”. Chame a militância! Coloque o Lula em rede nacional. Ninguém mais carismático do que ele. Ninguém conseguia falar tão bem para o povo.
Mandasse Gilberto Gil compor uma música para convencer a população. Chamasse Caetano Veloso. Afinal, artistas e militância não deveriam servir apenas para pedir votos. Deveriam servir para pedir por reformas também.
Imagine todas as pessoas que você viu falando ‘Ele Não’ nesta campanha, naquela época, pedindo por reformas. Todas elas teriam sido aprovadas. Bastava Lula querer. Lula não quis naquela época. Colheu agora.
Tire este sorriso da cara, bolsominion
Você, que está feliz que o Bolsonaro ganhou. Sem uma reforma da previdência, o Brasil vai quebrar. E sem uma reforma política, novos escândalos surgirão, agora manchando a imagem de outra pessoa. Portanto, independete do lado que você esteja, lute agora por uma reforma política