Tratamento precoce para COVID. Um grupo o defende, outro grupo diz que não funciona. Com tantas fake news se espalhando por aí, como saber a verdade? Com tanta manipulação das informações, inclusive da grande mídia, como saber o que é ou não verdade?
Dinâmica da COVID
Antes de falar sobre o tratamento, é importante entender como é a dinâmica da doença. A primeira fase da doença, é a fase da replicação viral. O infectado não tem sintomas enquanto o vírus se espalha em número e pelo corpo. Isto acontece nos primeiros 5-6 dias. Eventualmente, nos dias 4 ou 5, pode começar alguns sintomas relativamente leves, como tosse, febre, e alguns outros.
Para a maioria das pessoas, o corpo começa a atacar o vírus, como já faz diariamente com outros vírus e bactérias que entramos em contato. Mas em algumas pessoas, começa algo mais grave. Uma chamada ‘tempestade de citocinas’, um certo exagero no contra-ataque do corpo.
Junto com esta tempestade de citocinas, muitos pacientes começam a ter pequenos coágulos por todo o corpo. Estes pequenos coágulos atrapalham a circulação em todos os órgãos, mas os que mais sofrem são os rins e o pulmão.
As lesões causadas no corpo acontecem então, principalmente por causa desta ‘tempestade de citocinas’ e dos coágulos atrapalhando a circulação do sangue.
Esta descrição, claro, é muito simplificada. A descrição detalhada de toda esta dinâmica ocuparia muitas páginas.
Anti-virais
A medicina não possui muitos medicamentos que agem contra os vírus. Normalmente, no caso de doenças virais, o que se faz é ‘deixar’ o corpo agir, e cuidar dos sintomas. Mas, principalmente com o HIV, muita pesquisa foi feita a respeito de vírus, e hoje já existem alguns. Mas estes não se mostraram eficazes para o vírus da COVID.
Mas, logo no início da pandemia, pesquisadores chegaram a testar os efeitos anti-virais de alguns medicamentos já existentes, e constataram que os mesmos poderiam diminuir ou eliminar o vírus. Cerca de 30 remédios já existentes (1), em testes ‘in-vitro’ (no laboratório, não em humanos), se mostraram capazes de impedir a replicação do vírus. Isto é surpreendente, pois até a pouco tempo, como dito, a medicina não tinha quase nada a fazer com doenças virais.
Entre os remédios com efeito anti-viral, encontra-se a a ivermectina. Remédio para vermes, amplamente usado, com pouquissimos efeitos colaterais. Em muitas escolas públicas, é usado em todas as crianças de uma classe, para conter a proliferação de vermes entre os alunos. Normalmente se administra uma única dose de 6mg para cada 30kg de peso do paciente.
hidroxicloroquina e azitromicina
A cloroquina, ou sua droga irmã, hidroxicloroquina, é um medicamento usado, no início, principalmente para a malária. Mas ao longo do tempo, médicos corajosos começaram a usá-la também para outras doenças. Hoje, já se sabe que ela possui efeitos anti-inflamatórios. Tanto que hoje, muitos reumatologistas a utilizam em quem possui artrite-reumatóide, doença caracterizada por inflamação das articulações.
Este remédio, até meados de março, era vendido sem receita nas farmácias. Muitos pacientes a usam diariamente, pra a malária ou para doenças auto-imunes.
Didier Raoult, tratando doentes da SARS-Cov, outra doença causada por um vírus semelhante ao vírus da COVID, obteve bons resultados usando hidroxicloroquina junto com azitromicina. Então, quando veio esta pandemia, usou os dois remédios juntos obtendo novamente bons resultados. Começa a defesa destes remédios para a COVID.
Muitos estudos, alguns para nada
Então, alguns outros médicos começam a testar a hidroxicloroquina sem resultados tão promissores. A chave desta incógnita o próprio Didier Rault esclareceu. Dependendo do momento que a hidroxicloroquina é usada, o vírus não é o maior problema do paciente, e sim as lesões causadas pela inflamação e pelos problemas circulatórios. Ou seja, usar apenas medicamentos com efeitos anti-virais neste momento da doença não resolve.
E aqui está a chave de alguns estudos, tanto do lado da ivermectina quanto da hidroxicloroquina não apresentarem bons resultados. Dependendo do estágio e da gravidade das lesões causadas pela inflamação e dos problemas circulatórios, muitos outros medicamentos tem que ser usados. Usar apenas hidroxicloroquina ou ivermectina sem tratar os outros sintomas seria como tirar o prego mas não tapar o furo.
Outro aspecto está relacionado à chamada farmacocinética da ivermectina. Farmacocinética é o tempo que o medicamento fica ativo no corpo. Muitos estudos apresentam o uso do medicamento apenas uma vez, sendo que os efeitos anti-virais do mesmo deixam de funcionar depois de 7 dias. Mas este tempo normalmente é insuficiente para eliminar toda a infecção viral. Não eliminada, e sem novo uso da ivermectina, a infecção volta, causando problemas novamente.
Alguns estudos, apresentados abaixo, mostram que o efeito anti-viral também está relacionado à dose usada. Ou seja, estudos que usaram a dose padrão para vermes nem sempre apresentam bons resultados para o vírus.
Melhor não tratar nada?
Se os medicamentos ‘da moda’ não funcionam, como alguns estudos concluíram, então o melhor seria não tratar? Ou pelo menos, aguardar a fase inflamatória, para então tratar os sintomas. E esta tem sido a atuação de muitos médicos no Brasil. Aguardar o quadro piorar, para saber o que tratar.
O problema é que esta tal ‘tempestade de citocinas’ e os problemas circulatórios são traiçoeiros. O quadro do paciente pode mudar muito rapidamente. E muitas pessoas morrem, mesmo que os médicos façam de tudo para tentar controlar os sintomas.
O que fazer então?
Primeiro, se você não é médico, não tomar nada por conta. Exceto algumas vitaminas, como vitamina D e zinco. Mas se você é médico, posso dizer que existem centenas de estudos científicos que comprovam que tanto a ivermectina quanto a hidroxicloroquina possuem bons efeitos anti-virais para a COVID.
Evitar que a doença entre na fase inflamatória, significa evitar ou diminuir a tempestade de citocinas e os problemas circulatórios. Conseguindo isto, as chances de um resultado positivo aumentam muito.
Dados, dados, dados
Vamos ver alguns gráficos.
Neste gráfico, retirado do trabalho de Babalola et al, podemos ver que a ivermectina diminui o tempo para que os pacientes apresentem teste negativo de PCR para COVID. A linha verde apresenta a progressão dos pacientes que receberam 6mg a cada 84 horas, a vermelha 12mg a cada 84 horas e a verde, os que não receberam ivermectina.
Neste aqui, retirado do estudo de Charccour et al agora vemos a contagem do vírus em testes PCR. Perceba que a média da contagem do vírus, (indicada pela linha preta no meio do box colorido) é menor nos dias 4 e 7 do que o grupo sem ivermectina. No dia 14, a média já é próxima do outro grupo. Esta é a razão para que muitos trabalhos indiquem que a ivermectina não funciona. Se não for administrada mais uma dose no dia 7 ou antes, o vírus não será eliminado. Os pacientes receberam 400 mcg/kg em uma única dose.
Último sobre ivermectina. Este gráfico, apresentado no trabalho de Ahmed et al, três grupos de pacientes são estudados. O primeiro grupo (linha verde pontilhada) recebe ivermectina por 5 dias seguidos. O segundo grupo (vermelha pontilhada), ivermectina e doxiciclina uma única vez. O terceiro grupo, recebem placebo. O gráfico indica quando o paciente recebe alta do hospital. Perceba que o primeiro grupo que tomou ivermectina todos os dias tem alta mais rapidamente que todos os demais grupos.
Como não estou aqui defendendo nenhum remédio, e sim o tratamento precoce, vou colocar também um gráfico da hidroxicloroquina.
Neste gráfico, tirado do estudo de Gautret et al, vemos o tempo para teste negativo de PCR de acordo com os dias de tratamento. O primeiro grupo (linha preta) só recebeu placebo. O segundo grupo (linha azul) recebeu apenas hidroxicloroquina. O último grupo (linha verde) recebeu hidroxicloroquina e azitromicina.
Saia da bolha
Sem querer discutir as razões, posso afirmar que muito do que a grande mídia repete não reflete a realidade. Há evidências sérias que os remédios citados funcionam, quando usados no momento certo da COVID. E mais evidências ainda, quando o tratamento é iniciado cedo, nos primeiros sinais de infecção.
Posso afirmar também que os estudos relacionados à ivermectina, neste momento, são mais impactantes do que os de hidroxicloroquina. E este remédio possui efeitos colaterais menores do que a hidroxicloroquina.
Não poderia deixar de citar, o trabalho liderado e divulgado pelo Dr. Flávio Cadegiane, da Faculdade Paulista de Medicina, uma das melhores escolas de medicina do Brasil.
Para saber mais, convido o leitor a procurar os sites a seguir:
Os sites agregam informações de todos os trabalhos publicados ou em pré-publicação para tratamento de COVID, usando estes medicamentos. O site é honesto o suficiente em não descartar os trabalhos que apresentam resultados ruins. No topo, é possível também navegar e ver o resultado de outros medicamentos que também estão sendo pesquisados.
Sobre alguns deles (Vitamina D e Zinco), haverá um outro post.
Referências
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2020/04/21/interna_ciencia_saude,846687/coronavírus-30-medicamentos-se-mostram-promissores-para-combater-a-do.shtml
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2021.01.05.21249131v1.full.pdf
https://www.researchsquare.com/article/rs-116547/v1
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1201971220325066
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0924857920300996
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.31.20223883v1